" Passei a vida inteira a querer interpretar-te - oh! delicioso desperdício! - e nem sequer era por amor. Quero dizer, não era por causa daquela coisa que põe as pessoas numa exaltação de posse e de sexo. Através de ti eu existia antes de ter nascido, no vocabulário áspero e secreto de uma guerra que já não me pertenceu - moita carrasco, gatilhos olvidados, o tanas. Nem naquela noite em que despejámos sozinhos a tua preciosa garrafa de whisky velho irlandês e ficámos a ver a primeira demão do sol sobre os telhados de Lisboa nos ocorreu, sequer por um segundo. experimentar isso a que chamam a vertigem do corpo. De certa maneira, sabíamos de cor o corpo um do outro; trocávamos inibições e desaires como os miúdos trocam cromos. Mais do que alegria, era uma espécie de orgulho que nos estonteava nessa troca de intimidades funestas. Sem dormir contigo, aprendi de ti as vitórias e misérias de um homem, o rigor turbulento do prazer, o pavor de falhar, a relatividade das entregas como regra de entrega absoluta...
(...)Precisei de morrer para te desejar, precisei de morrer para ver a cor do desejo, que é branca, branca e irreparável, como tu, como nós dois. Quando fazíamos amor, não era o tempo que parava. Nós é que estávamos mortos, infinitamente mortos, boiando um dentro do outro num azul sem céu nem gravidade.(…) Estou à tua espera num sítio onde as palavras já não magoam, não ferem, não sobram nem faltam. Esse sítio existe."Fazes-me falta de Inês Pedrosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário