sábado, 21 de maio de 2011

Desistência

Não me sinto covarde por pensar em desistir, acho que todo mundo tem dias que quer jogar tudo para o alto e sair correndo para lugar algum, pra lugar nenhum. Ontem à noite fui invadida por uma enorme vontade de desistir. Sim, desistir de tudo, não só do serviço, da família, dos poucos amigos, dos sonhos, desistir da vida. Por mais de uma vez durante o dia, enquanto eu resolvia coisas da rotina no escritório (ligações, rescisões, folha de pagamento, etc.), tive vontade de ir embora. Deixar tudo pelo meio, pessoas falando sozinhas no telefone, e ir embora. Voltar para a minha casa, para o meu quarto, ouvir pela ultima vez minha musica preferida, olhar pela ultima vez minhas paredes, meu passado, escrever uma carta dizendo que não há culpados, que amo muita gente, mas que para mim o tempo já se esgotou, e ir. Desejei que o mundo estivesse longe, bem longe, muito longe de mim. Fiquei imaginando como seria. Escuro? Vazio? Sublime? Doloroso?
Mas não respeitar minhas vontades tem sido uma forma de violência que já saiu da autopunição e está à beira da tortura. Chega ser inexplicável, cumpro todas as minhas obrigações do início ao fim, como sempre, como todos querem, tentando esquecer que eu sou também uma pessoa, tenho medo, tenho cansaço e tenho escolha. E não respeitar justo a maior de todas as escolhas, a minha escolha é não estar aqui, nessa vida, nesse mundo. E mesmo assim eu continuo fazendo o meu dever apesar de querer desistir de tudo.
Às vezes eu fico dormente, me concentro nas batidas do meu coração, deixo minha mente vazia. Deixo meus pensamentos vagando em mil direções, nesse momento eu mal consigo ouvir o que me dizem. E com muito esforço eu volto.
Para quê? Por quê? A resposta é simples.
Muita gente confunde desistência com covardia. Eu me sinto covarde às vezes, mas não quando sinto vontade de desistir.
Desistir é um verbo transitivo indireto, originário do Latim Desitère e significa renunciar a, não querer continuar, não insistir, abster-se, abrir mão, abdicar. Covardia é um substantivo feminino, originário do Latim Coda (cauda), derivado do Frances a palavra Couard, que significa cauda abaixada. Portanto covarde se refere ao medo, ao vício da prudência. Sendo assim, existe uma diferença entre os dois termos. Desistir pode ser um ato de coragem até, afinal, nem sempre é fácil abdicar ou renunciar a alguma coisa. A covardia está relacionada à omissão, à omissão da ação. Desistência não é a omissão da ação. Apenas. A gente acaba se deixando contaminar pelo olhar alheio, e pelo medo do julgamento deste, acaba por fazer o que vai de encontro com a própria natureza. No caso, a minha covardia residiu em não desistir, não o contrário. E é horrível chegar em casa à noite, sabendo que se foi covarde consigo próprio. É deprimente.
Da próxima vez em que isso acontecer, porque vai ocorrer, isso é fato, assim como é fato eu ser uma pessoa, desistirei de tudo.

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