Está decretado, eu desisto.
Me cansei de achar que vale a pena insistir, que o que é meu está guardado, que o melhor está por vir. Não vale a pena lutar por alguma coisa que nunca existil. Desisto de fazer a unha toda semana. Agora alguns luxos já parecem ridículos, desnecessários de serem mantidos. Retirar esse antes de descascar até a metade já estará de bom tamanho. Fazer a sobrancelha também está descartado, uma dor desnecessária. Também desisti de ser fotógrafa, ou qualquer coisa assim. Desisti.
Desisti dos porres. Não ia ser mal só mais alguns, mas desisti. Desisti de filas de baladas. De pagar caro pra entrar em lugares escuros cheirando a cigarros, cerveja, vomito e sexo.
E ninguém me deu uma paulada na cabeça, pra me mostrar que eu tava louca? Bando de covardes, esses meus amigos, viram cada coisa e não me tiraram do surto...
Desisti de shows lotados, de disputar espaço com garotinhas histéricas de 12 anos que acham que vão ter um caso de amor com seus artistas preferidos.
Desculpe, soa um pouco arrogante, mas desisti. Que eu fique no conforto da minha casa, mas banheiro compartilhado, gente, não dá mais, passou, chegou — pronto, falei.
Desisti de mini-saia, de esmalte dourado, de batom vermelho e de cabelo ruivo. Vai ficar pra outra vida, quem sabe. Nessa, não vai dar. Que me desculpem as modernetes, que acham que vão conseguir levar o frescor da juventude para a vida toda.
Para a outra vida também vou deixar coisas que nem mesmo desejei nesta: morrer virgem de drogas pesadas (das leves também, excetuando-se um ou outro traste que me apaixonei na adolescência), e pular numa rave ou nesses shows em que vai todo mundo de branco, de preto, sei lá, coisa mais chata de se ver — espero que me liberem dessas também na próxima vida, se ela existir.
E desisti de salvar as crianças pobres da África. Não que elas não me importem mais. Aliás, importam mais agora que tenho consciência da realidade, mas de fato não acredito que eu vá conseguir mudar alguma coisa. Minha missão é outra, ainda que não abandone a generosidade, me satisfaço que ela venha em doses homeopáticas, e em situações veladas. Não preciso mais provar nada pra ninguém.
Para quando eu nascer de novo também deixo a experiência de ser gay, emo, ou punk. Nessa, o plano é morrer normal, normalzinha. Tão normal que pode até dar enjôo, eu sei. Mas não há de ser nada.
Que liberdade fresca é essa que eu tanto preciso? Que delícia não se importar com a moda, não precisar apertar os pés em sandálias horrorosas, nem pensar mil vezes, antes de falar, só para ser agradável.
Que delícia ser um pouco desagradável, só as vezes muito.
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