Quando ando, mexo os braços ao
invés da bunda, nunca fui de rebolar por aí.
Amarro o cabelo sem usar elástico, displicente assim mesmo.
Não uso perfume
importado, mas tenho cheiro de flor e um gosto raro. Sou azeda e doce, dentro do
mesmo momento. Do jeitinho que era aquele chiclete rosa que a gente mascava, um atrás do outro, e
que muito infelizmente não está
mais a venda.
Ah, eu sou, sobretudo, um delicioso trago, bebida ou cigarro, ou os dois.
É sempre muito,
tudo e misturado.
Eu sou o tumulto do show de rock, o calor dos corpos suados, e o suor no pé do cabelo que molha os dedos da mão que passa,
no meio do beijo, no meio da rua, no meio do bar, sou a respiração quente,
o gemido baixinho, o arrepio e as mãos dadas no caminho de volta pra
casa.
Eu ocupo espaço. Grito, pulo, bato palma e canto alto.
Ofereço sorrisos e a mão, mas para quem sabe pedir, eu também dou o braço.
Mais tarde, sutilmente, vou tirar os sapatos e se você, por acaso,
ainda estiver calçado, vai ouvir-me que deixe os seus de lado. Gosto de
andar descalça por que prefiro não ter cuidados quando caminhos sobre o
seu peito, ou pelo assoalho. Falo muito, muito alto, e para todo o lado, e posso parecer
desbocada, se necessário. Não que me
falte elegância ou respeito, mas
eu acredito no fato de que a força do que se pensa também se flui através
dos lábios. E sempre fui assim: impulsiva e intensa de nascença.
E tomo
cerveja, Whisky, cachaça. E faço bagunça. E fico rindo atoa. Sou
atrevida, olho nos olhos, encaro, sustento o olhar.
Mudo varias vezes ao dia. Seja de ideia, de humor ou de roupa.
Aprecio cada pequena coisa de que é feita a vida.
Valorizo cada palavra que
couber numa alegria ou numa ferida. Mas, como também a lua varia, há dias
em que eu fico estupidamente introspectiva. Só quero cama, livros e músicas, nada de companhia. Espero que saiba
como sou e que não se canse de esperar.
Como disse sou fêmea de gosto
raro. Sou azeda e doce dentro da mesma mordida, complexa em cada pedaço.
E tanto engorda quanto mata quem um dia possa se atrever a me provar.
E
por isso digo que sou o melhor caminho para a perdição do juízo.
Um prato
cheio para o desassossego.
E eu, gosto muito de tudo isso e não mudaria por
nada.
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