quarta-feira, 19 de abril de 2017

A irmã mais nova - Crônicas do cotidiano escolar

Já faz um tempo, cheguei na escola e lá estava ele. Envolto em um ar de mistério, sentado sozinho no banco de lápis de cor. Sorte a dele viver alheio aos problemas do mundo. Azar o meu, que cansada, sentei um pouquinho, inutilmente tentando descansar um peso invisível, aquele tipo de peso que dói por dentro. 
Ele parece um garoto bom, seja sentado em algum banco ou brincando com as outras crianças. Corro o risco de dizer até que parece feliz. Aquela felicidade genuína de criança, sabe?! De correr, rir e gritar ao mesmo tempo, aquele sentimento de liberdade que aproxima a gente do nosso lado mais primitivo. 
Mas sabemos que nem tudo são flores, crianças podem ser cruéis, e na maioria das vezes são. É difícil ser fora do padrão. E é agora que chego aonde quero chegar. Logo na entrada ouço um som grave, parecido com som de bicho grande, encurralado, ferido. Eu presa do lado de dentro, inquieta, impotente, sem poder fazer nada. 
Reconheci o sapatinho rosa. O corpo franzino, natural de uma menina de pouca idade. Traz em sua pequena mão a mão grande do irmão. Desvencilhando-o dos outros meninos, maiores que ela, maiores que ele, que como aves de rapina atormentavam-no. Resolvi chamar ela de valente. Ainda pequenina, nem imagina a força que tem. Eu pensei na minha irmã, das vezes que ela me protegeu. Também pensei em um primo que perdi tempo atrás. Uma saudade inundou meu coração e quase transbordou pelos meus olhos, eu sabia que seria um dia difícil. Não sei se igualmente difícil ao dia dele, mas ele está em vantagem, segurando a mão dela, pula quando a corda vem, em uma relação de afeto, conforto, confiança, segurança. Brincadeira de criança tem dessas coisas, é construção interna para o futuro, mas também é aprendizado para adulto que observa, é exemplo.

Talvez eu devesse pedir para segurar na mão dela também, e assim como ele, saber que vai ficar tudo bem.