quarta-feira, 12 de maio de 2010

BRASILIA


Deixou-se perdida nos devaneios do amanhecer por entre as cortinas do quarto, frio e úmido, que agora se tornava dourado. Aconchegou-se e tentou adormecer, impossível, mas queria saber o desfecho daquele sonho que mais parecia um filme. Gostava de sonhar mesmo sem poder controlar a imaginação, se sentia livre.
Levantou displicentemente, ainda entorpecida pelo sono e pele porre da noite anterior. Vestiu um blusão que tava pendurado junto à cama, antes de ir pra cozinha fazer um café forte foi ao banheiro, urinar, lavar o rosto e escovar os dentes, queria se livrar do gosto de bebida e sexo que estava impregnado em seu corpo.
Foi até a cozinha, colocou a água para aquecer, escorou-se na pia e acendeu um cigarro ainda perdida em pensamentos que iam se misturando. Foi trazida de volta a realidade pelo abraço inesperado, não se assustou, correspondeu ao abraço. Pegou o cigarro de sua mão enquanto passava o café, a fumaça e o perfume do café deixou a cozinha aconchegante, serviu duas xícaras que já haviam sido posicionadas sobre a mesa pelas mãos dele, enquanto dava o ultimo trago no cigarro bocejou. Ele quebrou o silencio até então estabelecido elogiando o café, mentira e ela sabia disso, o café estava intragável e ele só queria uma desculpa para estabelecer um diálogo. Em tom tímido agradeceu, deixou a xícara na pia e subiu as escadas sem mais nenhuma palavra. Ele despejou o café na pia, realmente estava intragável, serviu um copo de água que tomou em dois grandes goles, ascendeu mais um cigarro e subiu. Ela estava deitada, agitada, ele conseguia perceber pela expressão em sua face. Pensou em perguntar se gostaria de conversar, mas já sabia a resposta, apenas abaixou-se e beijou seus lábios, um beijo seco e frio, não precisou se despedir, ela sabia que ele estava indo embora. Ele sempre ia. Vestiu a bermuda e a camisa, calçou o chinelo, não olhou pra trás, desceu as escadas e saiu. Ela adormeceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário