sexta-feira, 16 de julho de 2010

“Nem toda brasileira é bunda”


Quando criança ganhamos rodos e vassouras em miniatura, logo depois vem os fogãosinhos que fazemos pirraça pra ganhar no natal, depois as brincadeiras de casinha onde o “pai” sai pra trabalhar e você é dona de casa. Brincando somos educadas à serventia do lar e da figura masculina que teremos em casa.
Logo chegam as Barbies e o estereotipo de perfeição, mulheres lindas, magras, loiras e de olhos claros, e se você não é assim vai se auto-rejeitar por não estar nos padrões.
Pensando que eu também passei exatamente por isso, notei que estes episódios me marcaram para sempre e fizeram perguntar que poder é esse que a família, a sociedade e os homens têm sobre o corpo das mulheres? Não é por que sua mãe estudou numa escola de freira, só transou com seu pai e foi dona de casa e servente dele a vida toda que isso é o certo a fazer, cada geração tem o seu tempo. Hoje as mulheres trabalham, estudam, são mães (às vezes até pai também), mas mesmo assim continuam escravizadas pela beleza padronizada.
Vemos modelos que retiram costelas, meninas ainda em formação aplicando silicone, substituem os narizes, desviam costas, mudam o traçado do corpo para adaptar-se à moda do momento, tudo isso somente para ficarem irresistíveis diante dos homens.
Enquanto isso, do outro lado, as baixinhas, as gordas, as de óculos, de aparelho ortodôntico, sentem cada vez mais esse sentimento de perda de auto-estima. Isso exatamente no momento em que a maioria de estudante no ensino superior é composta de moças. Em que mulheres se afirmam nas pesquisas científicas, na política, no jornalismo, no mundo. E, não falo como feminista, são dados que falam por mim, são pesquisas, e todos defendem a teoria de que é preciso feminilizar o mundo para eliminar-mos a visão de que para ser feminina temos que ser bárbies mercantilistas, assim ficamos mais próximos do humanismo.
Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade. Até porque já nascemos desarmadas, não temos pênis, mas sabemos nos virar sem um. Nascemos sem o poder temporário da ereção e penetração, não estupramos, que pode ser representado pelas armas de brinquedo que os meninos ganham na infância para mostrar sua futura virilidade. Mulheres não gostam desse tipo de coisa, nada que lembre guerra e violência, pois são empáticas com a dor das mães que perdem seus filhos nessas tragédias.
Digo que mulheres são as pacificadoras, só que para isso tem que haver respeito, começando pelo corpo. Cicatriz da casaria, do seio que ficou flácido pela amamentação, pernas com varizes porque carregaram seus filhos, trabalharam sobre saltos, respeito ao seu corpo que engrossou, porque carregaram o país nas costas.







Pagu - Rita Lee (fikdik!)

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