quarta-feira, 9 de junho de 2010

O dia dos sem-namorado - remix* By Christiana Nóvoa on June 12, 2009 4:45 PM

O dia dos sem-namorado cai dos sonhos com um suspiro comprido. Sem beijo de bom dia nem nada de bom pra fazer na cama depois de acordar.

Começa com jornal e coisas importantes acontecendo no mundo, um café preto e uma esperança quase afogada no fundinho da xícara: será que é hoje? Mas isso ninguém vê, nem a lágrima escapulida que a mão rápida dispersa. A cena seguinte já vem automática: olhar pra cima e respirar fundo, vestir o sorriso e ir à luta, que com cara de palhaça é que não se arruma ninguém mesmo.

O dia dos sem-namorado se demora em papéis e desktops e liga a tv na hora do almoço, pra distrair da falta de companhia. Evita as vitrines e os out-doors, repletos de corações e sorrisos felizes de quem nasceu um-para-o-outro. Passa direto pelo cinema com sua fila de pombinhos e dispensa, constrangido, a promoção bem-me-quer da operadora de celular.

O dia dos sem-namorado sai cedo e volta tarde, liga pros amigos, faz ginástica. Come fora, dá-se um livro - de pena, no fundo, é triste não ter a quem dar flores. O dia dos sem-namorado, se o quiser florido, compre as próprias, se o quer doce, encha a boca de bombons. Se romântico, abra um vinho e pegue um filminho piegas na locadora, daqueles que um namorado se recusaria a assistir. A maior vantagem de estar só é não ter que chegar a um consenso.

O dia dos sem-namorado é um dia igual a outro qualquer, só que mais longo, pela simples razão de que deveria ser especial - como, aliás, todos os dias. Pela falta que faz alguém pra surpreender minhas cores. A noite cresce e eu vou ficando esmaecida.

O dia dos sem-namorado termina como começou, num sonho, terra sem-fim da ilusão solitária.

E vai cair num suspiro comprido lá do outro lado, no próximo dia. Um dia normal, ufa, onde eu não seja um estranho ser que anda partido e sobrevive por teimosia, feito rabo de lagartixa.

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