segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Re-caída

Alguma coisa mudou em pouco tempo, não sabia explicar, toda a euforia foi dando lugar a uma melancolia. Podia ser sono, ou sua pressão baixando por causa do açúcar, mas não estava a fim de mentir pra si mesma, sabia exatamente o que era. Aí ela começou a socar, uma a uma, as teclas do teclado, na raiva descarregada, raiva que sei lá de onde vinha, raiva mais sem lugar e que formigava o coração, melhor respirar, todos da sala silenciosa já olhavam o que digitava com tanto barulho. Levantou e foi olhar pela janela, não por estar incomodada pelos olhares repreendedores, não se importava com eles, levantou pra distrair-se. Lá fora a cidade era sua como sempre foi. Era tarde e o dia se emendaria cedo na noite, o sol quente ia dando lugar ao céu alaranjado e ao vento frio. Fazia tempo, um bem assim considerável, que ela não escrevia no serviço, não se importava, apenas deixava brotar as letras de seus dedos, formando palavras, fases, sem se importar com nada. As imposições eram outras. Tinha o cabelo pra dar um jeito, os quilos pra perder, o dinheiro pra receber e pagar as contas antes do fim de semana, era segunda e ela já pensava na sexta, não que tivesse programado algo de diferente, mas sabia que somente nas sextas uma vida parecia mudar, a profissão escancarada lá fora exigindo reparo e atenção, aí foi deixando, calada uma a uma, não gosta de ser interrompida. Foi todo o parágrafo, esse sei lá se significava alguma coisa. E cadê a solução? Um controle maior da raiva, aquela, isso até que sim, mas aquecer que é bom nada. O prazer de deixar-se levar pelos dedos e não pela cabeça. Mas a insuficiência teimava em sufocar, provavelmente culpa daquilo que nem sabia o que era, mas deixava-a melancólica. Tinha fome, alguma coisa a gente tem que dominar, pelo menos sabia quando estava com fome. Uma vez ouvi dizer que dormir passa. A fome. Como não pode dar-se o luxo de ir para casa por causa dessa dor filha da puta no estomago. Daqui a pouco, vai vomitar umas palavras, essas que ainda estavam dentro à espera de alguma digestão, puta azia, tomei um anti-ácido no café da manhã. Ah, isso, fechou os olhos e desejou não estar ali, ter oito anos e estar acordando do sono da tarde de um pesadelo. Leu em voz alta o tudo acima escrevera, sorriu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário