sexta-feira, 12 de novembro de 2010

- Somente há o passado. O passado está em toda parte.

Por enquanto, Velho Scotch. Acordei cantando “E eu que nunca fui feliz...” ♪
Um e outro espaço entre as árvores, uma camisa manchada pela cor do vinho, ou todas as palavras do mundo enquanto houver.
Amanhece sobre a cidade.
É dia e eu pensei ter visto um sorriso, lá, dez anos antes.
Outro caminho se estreita no final do dia. E o apaziguar incorpóreo lá, dez anos antes, vingando-se diante de minha impotência, esmorece no descanso da luz, não basta apenas querê-lo, é mais forte que tudo, até mais forte que o tempo. Outra rotina escavada no frio da solidão, na dureza dos dedos por sobre os papéis de uma sexta-feira-nove-da-manhã, e essa angústia que prende o coração. Essa certeza do nada, do fim apenas. Lá, sorrindo, dez anos antes, como Jesus para uma criança, compaixão, piedade. Não há como não ir em sua direção.
Por sobre o rosto caem as lagrimas quentes, nunca fui amada – qualquer lugar - e é preciso arrancar do instante uma nudez indivisível, enquanto nasce no escuro a distância de meus dias. Porque daqui o horizonte parece sempre mais e mais distante, assim como o céu. E é preciso se agarrar a algo, ter fé. Ainda que esse algo seja apenas a escuridão de mais uma madrugada, se houver blues.
Não mais aquela menina correndo pelas ruas que levam felicidade. A ela dei adeus primeiro. Aquele caminho agora percorre pelas ruas de minha memória. Será que ainda estão lá? Pergunto-me o que fizera esse tempo todo, do que gosta, o que ama, o que sonha. Tudo perece dessemelhante ao encontrar de lábios, há dez anos perdidos, repentinamente, ausenta-se. Já não existem as mesmas cores, os mesmos sons, os velhos sabores. Estão todos mortos. São apenas retratos na parede, espreitando a manhã repleta de ausências.
E nada, nada pareceu se edificar no cascalho desses anos que mais parecem o mundo inteiro, o mundo todo, se nada é para sempre, por que dói tanto. Nunca ressurgirá das cinzas do tempo, do abismo de tamanhas lembranças. E quando me disserem, no momento e que a vida em mim se recolher em definitivo, sobre todas as coisas que há, hei de encontrar esse mesmo sorriso (que ora me despeço) como se ouvisse: -Somente há o passado. E diante dele, tudo o mais se torna indisponível.

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